15.3.13

Curiosidades da Língua Portuguesa (3ª edição)

Curiosidades da Língua Portuguesa
(3ª edição)
Augusto Domingues Alves
(01)
À laia de nota prévia, um esclarecimento: - Os termos ou expressões que vão ser referidos como objecto do presente texto resultam de recentes audições ou leituras nos meios de comunicação social (pelos tais profissionais(?) pagos pelos contribuintes deste País). 

“Melhor posicionado"? Olhe que não, senhor José Rodrigues dos Santos! Não diga “ o Cardeal português melhor posicionado…para ser nomeado Papa”. Veja e aprenda de uma vez por todas, (porque o sr. Zé é useiro e vezeiro) como é falar Português correcto: o Cardeal mais bem posicionado. E sabe porquê? É que antes de adjectivos-particípios – no caso vertente, “posicionado” - usam-se os comparativos regulares “mais bem” e “mais mal” e não as formas “melhor” e “pior”. Advirta-se, porém, que na posposição, isto é, quando os comparativos vêm depois dos adjectivos-particípios, só se empregam as formas sintéticas “melhor” ou “pior”. Exemplos: “As paredes das salas estão pintadas melhor que as dos quartos”; “não pode haver projectos executados pior que este”. 
“O herpes, ou a herpes”? A forma correcta é o herpes. Provém da forma masculina grega “herpes” e o seu género manteve-se no português. 
“Dê respostas o mais abrangentes possível, ou dê respostas o mais abrangentes possíveis”? A construção perfeita é “o mais abrangentes possível”. Trata-se da locução adverbial “o mais possível”, que é invariável. Logo, não se usa no plural. 
“Rir não é o mesmo que chorar, ou rir não é o mesmo do que chorar”? Correctamente dir-se-á : “rir não é o mesmo que chorar”. Na construção “ser o mesmo que”, o “que” é um pronome relativo e não uma conjunção comparativa. 
“Onde está a mala, ou aonde está a mala”? “Onde está a mala” é que deve dizer-se. “Onde” é um advérbio que exprime a ideia de permanência, de lugar sem movimento. Equivale a “em que lugar”, em frases interrogativas (“onde está a mala”?) e a “no lugar em que” em frases relativas (“ a mala está onde a deixaste”). “Aonde” é um advérbio utilizado com verbos de movimento. Quer dizer: “a que lugar”, ou “para que lugar”, em frases interrogativas (“aonde vais”?) e: “ao qual”, ou “a que”, em frases relativas (“o lugar aonde fui é calmo”). 
“Palavras de ordem”, ou “Palavras de ordens”? O plural de “palavra de ordem” é “palavras de ordem”. Conforme a regra, nos nomes compostos ligados por preposição (com ou sem hífen) - nome (palavras) + preposição (de) + nome (ordem) – apenas o primeiro elemento forma o plural. 
“Paralisia” ou “Parelisia”? A forma correcta é paralisia e provém do latim “paralyse”, através do grego “parálysis. Na linguagem oral, sons iguais tendem a diferenciar-se (fenómeno gramatical da dissimilação) 
“Patacoada” ou “Pataquada”? Só existe a forma “patacoada”. Esta palavra formou-se a partir do nome “patacão”, que significa “estúpido”, mais o sufixo –ada, que significa “acção”. Logo, “patacoada” quer dizer “um dito ou uma acção estúpida, um disparate.” 
“Pedicura” ou “pedicure”? À mulher que se dedica ao tratamento e embelezamento dos pés dá-se o nome de pedicura. É um nome feminino; o masculino é pedicuro. Ambos têm origem no francês “pédicure”. 
“Penálti” ou “Penalti”? “Penálti! Penálti! É penálti!” É uma palavra grave, (ou paroxítona), isto é, com acento tónico na penúltima sílaba (nal) e que termina em -i. Ora, a Gramática ensina: “Os vocábulos paroxítonos (ou graves), finalizados em –i ou –u, seguidos ou não de –s marcam-se com acento gráfico agudo quando na sílaba tónica figuram –a aberto, -e ou -o semi-abertos, -i ou –u. Ex: lápis, beribéri, miosótis, íris, júri, penálti… 
Como se forma o plural de “pionés”? O plural é pioneses (sem qualquer acento gráfico!!!). Nos nomes terminados em -r, -s, -z, e –n, acrescenta-se “–es” para formar o plural. Ao formar o plural de pionés, pioneses, a palavra passa de aguda, isto é, com acento tónico na última sílaba (-nés), para grave, ou seja, o acento tónico situa-se na penúltima sílaba (-ne). Não se verificando as circunstâncias que apresentámos para justificar a acentuação gráfica de “Penálti”, a palavra pioneses, porque é uma palavra grave, a sua acentuação segue a regra geral: “as palavras graves, regra geral, não levam acento gráfico. Logo, o plural é pioneses. 
Ícone ou icóne? Parece mentira, mas é verdade!!! Um dos figurões que fazem parte dos “jurados” no concurso “A tua cara não me é estranha” sentenciava: “ foi uma imitação fiel do maior icóne do fado português”. Que tristeza, digo eu. Pobre Língua Pátria! Eles sabem tão pouco e pavoneiam-se tanto!.... Por se tratar de palavra esdrúxula, acentua-se a antepenúltima sílaba e nela se coloca acento agudo. Ícone, ícone, ícone. 
“Põe na mesa que depois eu arrumo” ou “ Mete na mesa que depois eu arrumo”? A forma correcta é “põe na mesa”. Neste caso, o verbo “pôr” tem o sentido de “colocar em cima de”. O verbo “meter” significa “colocar dentro de” e deve usar-se na linguagem erudita - escrita ou falada - ; no entanto, também vem sendo usada com o sentido de “colocar em cima de” mas em linguagem popular, menos elaborada.
--------------------------------------------------------------------------
(02)
“Hoje hastio eu a bandeira porque ontem ninguém a hasteou”. 
Afinal, como devem escrever-se as formas verbais cuja sílaba tónica é a última do radical, dos verbos terminados em -ear e –iar, como hastear, anunciar, por exemplo?
A Gramática Portuguesa ensina assim:
1.Os verbos terminados em –ear recebem –i depois do –e nas formas rizotónicas. (rizotónica diz-se da forma verbal cuja sílaba tónica é a última do radical).
Sirva de exemplo o verbo “passear”, que assim se conjuga no Presente do Indicativo (passeio), no Presente do conjuntivo (passeie), e nos Imperativos Afirmativo (passeia) e Negativo (não passeies). Logo, eu hasteio e ele hasteou.
2.Os verbos terminados em –iar são, em geral, regulares. Sirva de modelo o verbo “anunciar”. Presente do Indicativo: anuncio; Presente do Conjuntivo: anuncie; Imperativo Afirmativo: anuncia; Imperativo Negativo: não anuncies.
3.Por analogia com os verbos em –ear (já que na pronúncia se confundem o –e com o –i reduzidos), cinco verbos de infinitivo em –iar  mudam o –i em –ei nas formas rizotónicas. São eles: ansiar, incendiar, mediar, odiar e remediar: anseio, incendeio, medeio, odeio, remedeio…
4.Há um grupo de verbos em –iar que não seguem uma norma fixa, antes vacilam entre os modelos de “anunciar” e “incendiar”. São, entre outros, os verbos: agenciar, comerciar, negociar, obsequiar, premiar e sentenciar. Os autores das gramáticas aceitam as duas formas: “agenceio” e “agencio”…etc.
5.Convém distinguir certos verbos terminados em –ear e –iar , de fora muito parecida, mas de sentido diverso. Entre outros: afear (relacionado com feio) e afiar (relacionado com fio); enfrear (relacionado com freio) e enfriar (relacionado com frio); estear (relacionado com esteio) e estiar (relacionado com estio); estrear (relacionado com estreia) e estriar (com estria); mear (relacionado com meio) e miar (com mio, miado); pear (relacionado com peia) e piar (com pio), vadear (relacionado com vau)  e vadiar (com vadio)… 
“Destruem ou destroem as cinco torres do bairro do Aleixo” 
Os verbos construir, destruir e reconstruir, podem ser conjugados: construo, construis ou constróis, construi ou constrói, construem ou constroem, etc. Os outros verbos derivados do latim “struere”, como instruir e obstruir, só conhecem a conjugação regular: instruo, instruis, instrui, instruem; obstruo, obstruis, obstrui, obstruem 
“A reunião da Câmara foi suspendida durante vinte minutos”… 
Expliquemos:
Suspender é um dos verbos chamados abundantes, assim designados porque possuem duas formas para o Particípio: a forma reduzida ou anormal e a forma regular em –ido (suspenso e suspendido). A forma regular (suspendido) emprega-se na constituição dos tempos compostos da Voz Activa, isto é, acompanhada dos auxiliares ter ou haver; a irregular (suspenso) usa-se na formação dos tempos da Voz Passiva, ou seja, acompanhada do auxiliar ser . Assim sendo, “ a reunião foi suspensa”. “A reunião vai ser suspensa porque o Presidente tem suspendido todas as reuniões desde que tomou posse”.
E o actor Virgílio Castelo (como tantos e tantas pseudo-intelectuais da Televisão) também não se tem salvado de fundamentadas críticas no mau uso dos particípios duplos. Ele diz: “…sentir na consciência o peso de ter morto…” . Ora, o Sr. Virgílio deveria sentir na consciência o peso de ter matado as boas regras da Gramática Portuguesa. De facto, a Língua Portuguesa foi morta quando usou aquela expressão “ter morto”. A palavra “Morto” é particípio irregular dos verbos “matar” e “morrer”. Porém, nunca vem precedida do verbo auxiliar ter! O auxiliar será sempre ser, estar ou ficar.
À laia de exemplo, apresentam-se os seguintes verbos com duas formas de Particípio:
Acender (acendido, aceso); benzer (benzido, bento); eleger (elegido, eleito); morrer (morrido, morto); matar (matado, morto); prender (prendido, preso) romper (rompido, roto); soltar (soltado, solto); entregar (entregado, entregue); expressar (expressado, expresso); expulsar (expulsado, expulso); vagar (vagado, vago)... Atenção! Com a primeira forma, usa-se sempre e só os auxiliares ter ou haver (Voz Activa); com a segunda forma, usa-se sempre e só os auxiliares ser estar ou ficar (Voz Passiva). 
“Cavaco Silva foi um dos Chefes de Estado que esteve no Vaticano”… papagueava a jornalista Carla Trafaria. Melhor faria aquela jornalista se informasse: “Cavaco Silva foi um dos Chefes de Estado que ESTIVERAM no Vaticano. E a razão é simples: o sujeito da oração relativa (iniciada por “que”) é  “que” referido a Chefes de Estado. Qualquer aprendiz sabe que o predicado (o verbo) concorda com o sujeito, isto é, vai para o plural ou para o singular, conforme o sujeito está no plural ou no singular.
Mais uma vez, o actor TÓ ZÉ Martinho – com curso superior obtido em universidade onde Relvas não entrou – com toda a pachorra artística que lhe é peculiar, vem dando os seus pontapés na Língua Portuguesa: “Aonde é que ele está?” – interpela o ZÉ. BASTA!!! Chega de disparates!!!
Aonde é um advérbio de lugar que deve ser usado apenas quando o verbo indica movimento! Por exemplo: “aonde vais”, e nunca se emprega com verbos que indicam situação estável, fixa: “Onde é que ele está”.
Imaginem que até o Reverendo Cónego Veríssimo – Pároco da freguesia religiosa de S. Julião, Figueira da Foz – comete os seus pecados linguísticos! É verdade! Com efeito, ao apresentar os agradecimentos ao Grupo Coral David de Sousa aquando da sua última actuação na Igreja Matriz, disse o Reverendo: Obrigados a todos os elementos do Grupo”. E ainda: “Nesta quadra festiva da Páscoa, é bom encontrarmo-nos connosco próprios”. Pois é: esqueceu-se da forma correcta: “Obrigado”. E não se lembrou de que nos pronomes “nós” e “vós”, quando vêm reforçados por “outros, mesmos, próprios, todos, ambos, ou qualquer numeral”  se usa “com nós” e “com vós”.
Ex: Encontrarmo-nos com nós próprios; estava com vós outros; saiu com nós três; conto com todos vós.

---------------------------------------------------------------------------
(03)
O João, pastor de profissão, barbeou-se, vestiu o seu melhor fato e dirigiu-se ao Posto da GNR para apresentar queixa porque o “fato do vizinho entrou no seu quintal e destroçou todas as árvores de pequeno porte bem como as couves e os feijões”… 
Foi então o cabo dos trabalhos porque o Cabo considerou que o pobrete do João, assim vestido, só podia estar a troçar da autoridade. E, vai daí, o Cabo impôs silêncio com dois estridentes gritos: “cale-se, desapareça, se não meto-o na pildra, seu (?)… para a próxima beba menos… seu (?)”. 
- “Acredite, senhor Cabo! Olhe que eram pelo menos oitenta cabras e dois bodes!!!”… 
…Pois é, o pastor deu uma lição de bom português ao representante da autoridade. De fato, isto é, realmente, (escrevo assim em bom brasileiro e em mau português!!!) o pastor referia-se ao rebanho do vizinho, que, por ser constituído apenas por gado caprino, se designa fato. Trata-se de palavras que têm a mesma forma fonética e gráfica, mas significados diferentes. Fato: vestuário masculino, constituído por calça, casaco, e por vezes colete, geralmente do mesmo tecido; vestuário feminino composto de saia, calças ou vestido e casaco. Fato: rebanho (de gado caprino), manada.
Morfologicamente, o fato – que entrou no quintal – é um substantivo colectivo, isto é, tem forma singular mas designa um conjunto de coisas da mesma espécie. Encontramos vários na Língua Portuguesa, por exemplo: cardume – de peixes; fio – de atuns; junta – de bois, de médicos, de examinadores; leva – de presos, de pessoas que se deslocam; – de gente; réstia – de cebolas; vara – de porcos.   
Na RTP, - o tal canal que custa milhões a todos os contribuintes… para benefício de alguns - lia-se em rodapé: “foram disparados vários projéctis…”  
Ora, nos substantivos terminados em –il, o –il passa a –is se forem palavras agudas: barril/barris, canil/canis; o –il passa a –eis se forem graves: réptil/répteis, projéctil/projécteis. Excepção: móbil/móbiles.
Conjugação pronominal.
Esta conjugação faz-se com os pronomes pessoais –o, -a, -os, -as, -me, -te, -lhe, -nos, -vos, -lhes. Note-se que grassam por aí erros no emprego de –lhe, -lhes que devem ser usados apenas quando desempenham a função de complemento indirecto. Exemplos: “eu vi-lhe na rua” em vez de “eu vi-o(a) na rua”; “nós levámos-lhe a casa”, em vez de “nós levámo-lo (a) a casa” (porque o pronome pessoal desempenha a função de complemento directo).
Já será correcto dizer: “eu dou-lhe um livro”; “ele fez-lhe uma carícia” (porque o pronome pessoal desempenha a função de complemento indirecto).  
Precaviu-se  ou Precaveu-se?
Tal como falir, o verbo precaver-se no indicativo presente só se conjuga na 1ª e na 2ª pessoas do plural e no imperativo afirmativo na 2ª pessoa do plural.
É um verbo regular da 2ª conjugação, (segue o modelo “ler”) que não tem qualquer relação com o verbo irregular “ver”: precavi-me, precaveste-te, precaveu-se… (pretérito perfeito do indicativo); precavera-me, precaveras-te, precavera-se…(pretérito mais-que-perfeito do indicativo; precavesse-me, precavesses-te, precavesse-se…(imperfeito do conjuntivo), etc.
Se isto lhe convier ou se isto lhe convir?
A forma correcta é convier. É uma forma do futuro do conjuntivo do verbo convir. O futuro do conjuntivo é o tempo verbal usado nas orações iniciadas com a conjunção –se, que exprime uma ideia hipotética, ou iniciada por –quando, exprimindo tempo.
Também se pode dizer: “ se isto lhe for conveniente”, com o verbo -ser no futuro do conjuntivo.
Para usar o infinitivo – convir – teríamos de alterar a frase para “No caso de lhe convir”.
Corrimãos ou corrimões?
A forma correcta é corrimãos.
“Corrimão” é uma palavra formada a partir do verbo “correr” e do substantivo “mão”. E o plural de mão é mãos.
No entanto, por haver, em português, um grande número de palavras terminadas em –ão a formarem o plural em –ões, a forma “corrimões” generalizou-se de tal maneira que passou a ser aceite pelos dicionaristas como plural pretensamente válido.
Donde, se conclui que o uso e abuso criou um novo termo…ilegítimo do ponto de vista étimo.
Corrosivo ou corrosível?
“A soda cáustica é um produto corrosivo ou corrosível”?
A forma certa é “corrosivo”. Corrosivo significa “que corrói”; “Corrosível” quer dizer “que pode ser corroído”.
Costoleta de porco ou costeleta de porco?
Não existe a forma costoleta. Deve dizer-se “costeleta”
Decerto está doente ou de certo está doente?
“Decerto” é a forma correcta. É um advérbio que significa “com certeza”, “certamente”.
“De certo” é uma expressão que significa “de correcto”, “de verdadeiro”, como, por exemplo, em “o que sabemos de certo sobre este caso não é esclarecedor”.
“De forma que ou de forma a que”?
“Vou estudar o caso de forma que se resolva o assunto ou Vou estudar o caso de forma a que se resolva o assunto”?
Não se usa a preposição “a” antes do “que” nas locuções “de forma que, por forma que, de maneira que, de modo que”.
Correctamente deve dizer-se de “forma que”.
“Requereu ou Requis”?
O director requis a presença de todos ou  O director requereu a presença de todos?
A forma correcta é “requereu”.
É a terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo do verbo “requer”.
Apesar de “requerer” ser um verbo composto de “querer”, não se conjuga inteiramente como este verbo, diferindo em alguns tempos e pessoas verbais que se conjugam como de um verbo regular se tratasse, seguindo assim o paradigma “comer”, por exemplo.  
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 
(04) 
Senhor Cónego Veríssimo, Vossa reverência anda um tanto ou quanto descuidado com o uso das regras gramaticais da Língua Portuguesa. E olhe que isto é tanto mais grave quanto é certo que o Senhor Cónego foi Professor de Português numa das escolas mais lídimas deste País: o Seminário! Assim, um dos seus ex-alunos sentiu um tremendo zumbido ao ouvi-lo dizer: “muito obrigado… por ter aceite o nosso convite”… 
Como sabe, o verbo “aceitar” tem duas formas verbais no particípio passado: “aceitado” e “aceite” sendo que a primeira forma (aceitado) usa-se nos tempos compostos do verbo (conjugado com o auxiliar “ter”  ou “haver”); e a segunda forma (aceite) é usada na voz passiva do verbo, isto é, conjugado com o auxiliar “ser”, “estar” ou “ficar”. Logo: “ter aceitado”… e “foi aceite”… 
“Ser bom de mais” ou “Ser bom demais”?
Nesta expressão deve dizer-se “ser bom de mais”. É uma locução adverbial que significa “excessivamente”: (ser bom de mais), e “quantidade excessiva, muito, demasiado”: (comemos de mais). Para além disso, pode ser também a preposição “de” seguida do advérbio “mais”: (Ele falou de mais dois assuntos).
“Demais” é um advérbio que significa “além disso”: (Decidi não ir ver o desafio de futebol porque chovia; demais, era previsível o resultado…)
“Demais” pode ser também um pronome, e, então, significa “outros, outras, restantes”: (os demais sentaram-se sem fazer barulho).
“Não queria que eu vendesse a casa” ou “não queria que eu vende-se a casa”?
“Vendesse” e “vende-se” são formas do verbo vender e pronunciam-se de forma diferente.
“Vendesse” é uma forma do pretérito imperfeito do conjuntivo. É uma palavra grave, ou seja, com acento tónico na penúltima sílaba: (-de-). O conjuntivo é o modo usado em construções que exprimem vontade, desejo, como a do exemplo (querer que): “Não queria que eu vendesse a casa”.
“Vende-se” é a terceira pessoa do singular do presente do indicativo, seguido do pronome “se”.
“Vende” é uma palavra grave, isto é, a sílaba tónica é a penúltima: (ven). Usa-se esta construção em frases como, por exemplo: “Vende-se moradia bem localizada).
“Ventoinha” ou “Ventoínha”
“Ventoinha” é uma palavra grave, ou seja, com acento tónico na penúltima sílaba. Segundo a regra, a vogal tónica (-i), que não forma ditongo com a vogal anterior e que está seguida de (-nh-), não leva acento gráfico, como, por exemplo, “moinho”, “rainha”, campainha”.
Em geral, (há excepções!!!), as palavras graves, isto é, com a penúltima sílaba tónica, não levam acento gráfico. 
“Vou tomar uma xícara de chá” ou “Vou tomar uma “chícara de chá”?
A forma correcta é “xícara”.
O nome “xícara” tem origem no nauatle (língua antiga asteca) “xikáli” e entrou na língua portuguesa pelo castelhano “jícara”. 
“Xícara” é sinónimo de “chávena”.
Como se forma o plural de “lilás? 
Todos sabemos que é “lilases”, não é verdade? No entanto, nem sempre nos apercebemos que no singular a palavra é aguda (acentuada na última sílaba: lilás) e, no plural, torna-se grave (acentuada na penúltima sílaba perdendo o acento gráfico: lilases) 
“Se eu mantiver alguma esperança” ou “Se eu manter alguma esperança”?
Um distinto autarca português clamava na praça pública, frente às câmaras do canal de Televisão pago por todos (?) nós: “se eu manter a esperança… a obra aparece”.
…Oxalá a obra apareça mais perfeita do que o Português de tal autarca. Na verdade, “se mantiver a esperança… é que é a forma correcta. É a primeira pessoa do singular do futuro do conjuntivo do verbo “manter”. O futuro do conjuntivo é o tempo verbal usado nas orações iniciadas pela conjunção “se”, que exprime uma ideia hipotética. Este verbo conjuga-se como o verbo “ter”. Assim sendo, tal como se diz “se eu tiver”, deve dizer-se “se eu mantiver”.
Para usar o infinito “manter”, a frase teria de ser alterada para: “No caso de manter”. 
“A planta estava murcha” ou a “planta estava murchada”?  
“Murchar” é um verbo com dois particípios passados, um regular – “murchado” – e outro irregular – “murcho”. O particípio regular usa-se com os verbos auxiliares “ter” e “haver”, por exemplo: “A flor tinha murchado por causa da seca”. O particípio irregular utiliza-se com os verbos auxiliares “ser” e “estar”: “A planta estava murcha” 
“O ano passado registaram-se mais acidentes”? 
A resposta é…. Errada! (Referimo-nos naturalmente à forma que deve ser: “No ano passado houve mais acidentes”.
É uma expressão de tempo introduzida pela preposição “em”, contraída com o artigo “o” = “no”. 
“O ano passado” emprega-se quando é sujeito da frase. Por exemplo: “ O ano passado foi bom”.
Como se pronuncia “Perseverança”?  
Há por aí muitos falantes (políticos, jornalistas, académicos, pseudo-intelectuais, ricalhaços…) que persistem na pronúncia errada. Vai daí, dão ao “s” o valor de “z” e esquecem que este fonema “s” só vale “z” quando entre vogais (casa). Em “Perseverança” o “s” pronuncia-se como em “Persistem”, como em “saca”.   

 ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 
05
Na edição de 9 de Junho de 2013, o jornal “O Amigo do Povo”, inseria a seguinte notícia: “As universidades de Coimbra e do Porto são as melhor cotadas no maior ranking mundial de universidades”. 
Não é porque não saiba, mas tão só por lapso, o distinto director Manuel Ventura Pinho deu um pontapé na Gramática ao usar o advérbio “melhor” antes do adjectivo verbal “cotadas”. Ensinam os compêndios de Gramática Portuguesa que antes dos adjectivos verbais se usa “mais bem” e não “melhor”. Logo, “as universidades mais bem cotadas” é a forma correcta. 
“A GENTE VAMOS-S`IMBORA”? 
Não! “A gente vai-se embora” ou “Nós vamo-nos embora”. 
Ouve-se por aí, a torto e a direito, esta forma de dizer. É, portanto, muito corrente, mas nem por isso deixa de ser incorrecta. É um desvio à norma que, para muita gente de pouca gramática, eu diria que se tornou quase norma…, mas mesmo assim incorrecta. O sujeito sintáctico “a gente”, singular como é, exige o verbo no singular (3ª pessoa: “vai”. Mas temos aqui uma outra questão muito interessante: é o caso do pronome reflexo. Numa expressão de conjugação reflexa, o pronome reflexo é sempre da mesma pessoa gramatical do sujeito. Por isso é que se diz reflexo: a acção do sujeito reflecte-se sobre o sujeito. Vejamos: Eu lavo-me, tu lavas-te…(você lava-se)…nós lavamo-nos…(vocês lavam-se)… 
E, já agora, como se pode verificar, o pronome você (vocês) exige também o verbo na 3ª pessoa (singular ou plural), embora se dirija a um interlocutor (pessoa com quem se fala). Quando falamos para alguém que não tratamos por tu, mas também não queremos tratar por senhor, por V. Exª, então tratamo-lo, -la (-los, -las), por você (vocês). É um discurso de segunda pessoa, mas falamos usando a terceira: você faz, vocês fazem… Pronto! Por agora, a gente vai-se embora para tratar de outro assunto! 
PRONOMES E DESINÊNCIAS “-mos e …mos”; “-se e…sse”. 
“Para termos (1) bons livros gasta-se (2) bom dinheiro. Se eu gastasse (3) mais, teria mais. Tens aí os que compraste (4) ontem? Empresta-mos (5). Quando os tivermos (6) lido, eu entrego-tos (7). E vós, comprastes (8) mais? 
São só alguns exemplos da confusão que anda por aí quando se trata de distinguir desinências verbais de pronomes: 
(1), (3), (4), (6), (8) – desinência pessoal de forma verbal: não se separa. (2) – pronome pessoal reflexo, 3ª pessoa singular e plural: separa-se com hífen. 
(5), (7) – contracção de dois pronomes pessoais, portanto, usa-se hífen: me+os = mos; te+ os = tos. 
(4), (8) – Não trocar a desinência do singular pela do plural!... 
E, já agora, uma recomendação para certas zonas do país onde se usa muito: não trocar a desinência –stes do pretérito perfeito, 2ª pessoa do plural, pela incorrecta –steis… Vós fzésteis? Vós comêsteis? Vós dormísteis? Não! Mas sim, conforme a norma: Vós fizestes, Vós comestes. Vós dormistes. Etc. 
Desinências em “eis”, só no pretérito imperfeito, do indicativo e do conjuntivo: “Vós fazíeis”, vós comíeis, vós dormíeis (indicativo). “Se vós fizésseis”, “se vós comêsseis”, “se vós dormísseis”…(conjuntivo). E pretérito-mais-que-perfeito simples: “vós fizéreis”, “vós comêreis”, “vós dormíreis”. 
 …A TELEVISÃO CORROMPE A LÍNGUA...
Durante a festas dos Santos Populares, ouvimos as seguintes asneiras televisivas: 
1. Vamos “dar por fim” esta transmissão da celebração dos casamentos de Santo António… 
2. O acordo não é “tão gravoso do que” se previa… 
3. As regras de futebol estão de “costas voltadas com as leis” da EU. 
4. O Presidente “reserva-se ao direito” de escolher os seus colaboradores. 
5. A proposta do governo ainda não se “aproxima aos salários” comunitários. 
6. Resta a “solidificação” dos negócios pelos empresários… 
7. Cuidado ao circular na ponte, porque os menos “percalços” podem cair num buraco da via. 8. As pessoas estão aqui quase “engeladas” para ouvir este concerto. 
9. “Costumamos a dizer” que… 
10. O ministro ficou a” pregar” sozinho… 
11. Mas “espera-lhes” grandes dificuldades… 
12. O primeiro-ministro “afirmou de que” o subsídio de férias não seria abolido… 
13. A ideia “de que eu fiquei” foi… 
 COMO DEVIA SER: 
1. Vamos dar por finda esta transmissão. “finda” – nome predicativo do complemento directo “esta transmissão”. Também podia ser: Vamos dar fim a esta transmissão. 
2. O acordo não é tão gravoso como se previa. 
3. As regras de futebol estão de costas voltadas para as leis da EU. 
4. O Presidente reserva-se o direito de… 
5. A proposta do governo ainda não se aproxima dos salários comunitários. Aqui está outro caso de regência: “aproximar-se de”…não “aproximar-se a” 
6. Resta a consolidação dos negócios… Empregar uma palavra imprópria por outra que é própria. Chama-se a isto impropriedade de linguagem… 
7. Cuidado ao circular na ponte porque os menos precavidos podem cair num buraco da via. É um superlativo relativo de superioridade. Tinha de empregar, portanto, um adjectivo (precavidos”), não um substantivo (percalços) 
8. As pessoas estão aqui quase enregeladas. 
9. Costumamos dizer que…( Para quê a preposição “a” ?) 
10. Como o locutor não abriu o “e” de “pregar”, a gente ficou a pensar que o ministro ficara mesmo a pregar (com e mudo) pregos… 
11. Mas esperam-se para eles grandes dificuldades… 
12. O primeiro-ministro afirmou que a portagem… 
13. Temos aqui um pronome relativo que introduz uma oração do mesmo nome, na qual o pronome relativo é um complemento que exige a preposição “com”.A forma correcta é: A ideia com que eu fiquei.
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
06
“Prova dos nove”? 
A operação matemática usada para verificar se o resultado de uma “conta” está certo ou errado consiste, além do mais, na eliminação dos números de valor “nove” e considerar valor “zero” o somatório dos dígitos igual a nove…Esta operação, em bom português, designa-se “prova dos noves” e não “prova dos nove”. Com efeito, trata-se de eliminar todos os noves que eventualmente se encontrem sob consideração matemática, conforme sugere o artigo definido “os”. Se empregamos (e bem!) “prova dos”, forçoso é concluir que a forma correcta é: “prova dos noves”. 
Embora os jornalistas, por exemplo, anunciem o programa televisivo “Prova dos 9”, pronunciando “prova dos nove”, a verdade gramatical é: “prova dos noves”. 
“Outrem” não é palavra aguda! (Isto é, a sílaba tónica não é a última: “trem”). 
Já ouvimos a Drª Maria Elisa, jornalista da velha guarda, pronunciar “outrém”…E há por aí muita gente a escrevê-la assim – outrém – com acento na última sílaba. Foi o que aconteceu num dos panfletos de propaganda política para as autárquicas no concelho da Figueira da Foz… “Outrem”, palavra grave, é um pronome indefinido e, talvez por isso, por estar próximo de “alguém”, há utentes que a usam como se ela fosse também aguda. Mas não é. É grave. E, portanto, não tem nada que levar acento agudo, nem na última sílaba porque não é aguda, nem na penúltima porque é grave. 
“Sobre mira”, ou “Sob mira”? 
Ouvia-se na SIC: “…os incumpridores estarão sobre a mira dos técnicos das finanças”. 
Sob e sobre, duas preposições, dois prefixos opostos, um é por baixo, outro é por cima, andam por aí trocados por quem não domina a norma, diria mesmo, a basezinha da gramática. Ora vejam. 
Os alvos não estão sobre a mira; eles estão “sob a mira” ou “na mira”(= ao alcance de). A não ser que o atirador (o “mirador”) aponte para um alvo no ar. Mas, mesmo neste caso, deverá dizer-se “sob a mira”. E porquê? Porque, neste caso, embora o alvo esteja fisicamente em plano superior ao do “mirador”, há aqui o que se pode chamar um transporte semântico que atribuiu à coisa alvejada uma posição de inferioridade, de sujeição… Ou então na “mira”. Estar sob a mira ou na mira de alguém quer dizer ser alvejado, ser visado, ser objectivado, ser perseguido, ser assediado, ser almejado… física ou moralmente. 
“Genuidade”? 
Sentenciava o jornalista num programa televisivo sobre desporto: …”o caso de Bruma mostra a genuidade do mundo do futebol português”… “Genuidade”, não! Genuinidade, sim! Deriva de genuíno. 
O que há aqui é uma questão que tem a ver com o fenómeno fonético que se chama haplologia (contracção ou redução dos elementos similares de um vocábulo. Este fenómeno verifica-se em palavras já normalizadas, como: bondoso (inicialmente bondadoso) caridoso (caridadoso).
Genuinidade, segundo a norma, não sofreu ainda o efeito da tal haplologia, a não ser no uso de falantes que ignoram a tal norma. E, muito provavelmente, não virá nunca a acontecer, porque no processo evolutivo das línguas, quanto mais elas se fixarem na escrita e na alfabetização dos falantes, mais difícil é deixarem-se influenciar pelos fenómenos evolutivos. 
Prepósito, ou propósito? Prenome, ou pronome? 
As duas formas coexistem. Trata-se de palavras Parónimas, isto é, palavras com formas fonéticas diferentes, mas próximas, e significados diferentes. “Prepósito=intento; Propósito=resolução; Prenome = nome de baptismo anterior ao de família; Pronome = palavra que se usa em vez de um nome. O prefixo “pré” indica “anterioridade”; o prefixo “pró” indica “movimento para diante”. 
Como se pronúncia “tóxico”? 
Sobre a pronúncia das palavras compostas ou derivadas do vocábulo tóxico anda por aí muito lixo na língua de tantos falantes que nos deixa intoxicados… 
O termo “tóxico” pronuncia-se tócsico. Também com o x a valer cs, se pronunciam as palavras derivadas de tóxico. Por exemplo: toxicodependente, toxicofobia, (medo excessivo dos venenos) toxicotráfico… 
Porém, nas palavras compostas simplesmente, ou compostas e derivadas simultaneamente, em que entre o étimo “tóxic(o), o x vale ch. Por exemplo: intoxicar. 
Já agora, veja-se o valor da consoante x. São os seguintes os valores de x: 1. (ch) em xadrez, mexer, etc. 2. (cs) em maxila, tóxico, etc. 3. (gz) em hexaedro,etc. 4. (ligeiro ch) em contexto, Félix, etc. 5. (ss) em sintaxe, próximo, etc. 6. (z) em exame, exílio, etc. 
Palavras com s/z nos sufixos –inho e zinho (diminutivos) 
Levantam-se, por vezes, dúvidas quanto à ortografia destes diminutivos principalmente nos casos em que vêm precedidos de um -s ou de um –z que pertence à palavra base. Assim, podemos considerar três casos: 1. Diminutivos com os sufixos –zinho (a). Ex.: cafezinho (café + zinho), avozinho (avô + zinho), etc. 2. Diminutivos com -inho (a), precedidos de –s (pertencente à palavra-base). Ex.: vasinho (vaso + inho); mesinha (mesa + inha), etc. 3. Diminutivos com –inho (a), precedidos de –z (pertencente à palavra-base). Ex.: juizinho (juízo + inho); certezinha (certeza + inha), etc 
“A ideia “dos” professores irem à Assembleia da República…” 
Se tivermos em conta que a frase é da responsabilidade de um professor sindicalista, conviremos que ao ministro da educação cabe toda a razão para exigir “prova de conhecimentos” na promoção da carreira dos professores. O papel do professor é ensinar. E ensinar bem! Ora, se os mestres não sabem, como podem transmitir cultura, educação? 
Senhor professor sindicalista, escreva e diga: “A ideia “de os” professores irem…” É que, reza a norma gramatical: não há contracção da preposição quando esta antecede uma oração infinitiva.
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
(07) 
Ninguém duvida de que o Reverendo Cónego Veríssimo é uma pessoa cortês, educada, correcta, mas no que toca a respeitinho pela Gramática Portuguesa não serve de exemplo, isto é, nem sempre é correcto. Se não, vejamos:
“Muito obrigados a todos por não espalharem flores no átrio da igreja. È que a seguir há outro casamento e parecia mal o chão estar sujo…” . Assim se dirigia o Senhor Cónego às pessoas presentes na cerimónia de um casamento, na Igreja Matriz da Figueira da Foz, em 31 de Agosto de 2013.   
Obrigado sim! Obrigados não! A palavra que exprime gratidão concorda com quem agradece e não a quem se agradece. Se é uma só a pessoa que agradece, diz-se “obrigado” (ainda que sejam várias as pessoas a quem se agradece). Diz-se “obrigados” se forem diversas as pessoas que agradecem (ainda que seja uma só a pessoa a quem se agradece.
Por mim, fico muito obrigado a todos quantos não se esquecerem desta regra gramatical.
……………………………
O economista e professor universitário Manuel Caldeira Cabral não tem as contas em dia com a Gramática Portuguesa, não obstante a sua função de professor universitário.
Convidado a comentar as notícias dos jornais, no programa “Bom Dia Portugal”, no dia 7 de Setembro de 2013, referindo-se às intervenções dos Estados Unidos em conflitos noutros países, o professor pronunciou-se assim: “ nas diversas guerras onde a América interviu, não ficou nunca bem na fotografia…”
Senhor Professor, veja bem como fica mal na sua fotografia! Não diga interviu mas sim interveio.  
……………………………
O apresentador Herman José deleitou-se, há dias, como entrevistado a descrever parte da sua árvore genealógica e as peripécias por que passaram os seus avós. Mas não dignificou a Gramática Portuguesa quando se lamentava “não saber exactamente quais as razões que tenham havido para o avô fugir da Alemanha”. Desta forma, a Língua Portuguesa sofreu mais uma beliscadura. Como todos sabemos, deveria dizer: as razões que tenha havido (com o verbo no singular) uma vez que o verbo haver – nos tempos simples e compostos – com o significado de existir, não tem plural.
……………………………
Erros e gralhas na Comunicação Social
Quem um dia se propuser desenvolver um trabalho de caça às gralhas em tudo quanto seja meio de comunicação social, audiovisual ou apenas visual, falado ou escrito, não terá mãos a medir, se quiser tomar nota de todas as gralhas que esvoaçam a grasnar pelo céu da sua leitura, visão ou audição – jornais, livros, televisões, rádios -, não falando já em telefone…
Transcrevem-se em contexto frásico, só na medida em que o contexto seja necessário para se entenderem:
1. “…terças e quintas à noite vão haver danças latinas”
Correcção: “…terças e quintas, à noite, vai haver danças latinas”. (Verbo haver impessoal, logo
o auxiliar (ir) será no singular.
2. “O objectivo dos socialistas é a de que os jovens participem cada vez mais nas decisões da vida do concelho”.
Correcção: “O objectivo dos socialistas é que os jovens participem cada vez mais nas decisões da vida do concelho” (Aquele “de” está a mais).
3. “O outro é de que o treinador (…) mostrar que não confia naqueles jogadores”.
Correcção: “O outro é que o treinador (…) mostre que não confia naqueles jogadores”.(Outra preposição a mais e a questão da oração conjuncional ou infinitiva); ou: “O outro é o do treinador (…) mostrar…etc…”. (Aqui sim, oração infinitiva, é precisa a preposição “de”.
4. “…o grande risco que se corre é de politizar este Conselho de Juventude…”        
Correcção: “…o grande risco que se corre é o de politizar…”, ou: “…o grande risco que se corre é politizar…)
5. “Se há sinal dos tempos (…) este é um deles…”
Para que este seja um deles, era preciso que “sinal” estivesse no plural, assim: “Se há sinais dos tempos (…) este é um deles”        
6. “… dá por adquirida um regime de liberdade…”
“A chegada à maturidade de uma geração de portugueses que dá por adquirida um regime de liberdades foi o seu (do 25 de Abril) grande fruto, hoje felizmente banal”. (Artigo de um professor universitário).
Devia ser: dá por adquirido um regime de liberdade. Neste caso “por adquirido” é o nome predicativo do complemento directo (um regime) com o qual tem de concordar.
7. “…sabermo-nos sacrificarmo-nos, numa ajuda por vezes inglória”.
Aqui está mais um caso de excesso de infinito pessoal. Para quê repetir o infinito pessoal nos dois verbos? É que até se torna mais difícil de pronunciar! Além disso a Gramática determina que se use um só infinito pessoal (sabermo-nos) e um infinito impessoal (sacrificar-nos).
8. “Este é um dos que está melhor colocado”? Não! Este é um dos que estão mais bem colocados? Sim!
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
 (08)
“Com cada uma”? Na linguagem falada e escrita aparece com frequência o uso da expressão “com cada uma” para designar factos, acontecimentos, atitudes que, pela sua invulgaridade, causam surpresa, admiração, estupefacção. Ora, a verdade é que, assim usada, a expressão é mesmo estupidez linguística. Com efeito, a preposição “com” desvirtua o bom uso da linguagem seja ela escrita ou falada: deverá usar-se apenas: …”cada uma!” . Inês Castel Branco – actriz – para manifestar a sua surpresa pelo comportamento de uma outra actriz, dizia: “Ela faz com cada uma!!! Correcto será: Ela faz cada uma! Convenhamos que não é muito de estranhar que estes pontapés linguísticos aconteçam a nível de telenovelas em que os intervenientes – na maior parte dos casos – não primam pela cultura. Assim, a Luciana até se permite chutar com dois pés, isto é, numa só frase comete dois erros: “…Quando tu chegastes eu pusi-a na gaveta…(!!!) . Qualquer cidadão português que se preze diria: …Quando tu chegaste eu pu-la…) Nestas situações, não ficam isentos de culpa – ou, pelo menos merecedores da mais veemente repreensão – os responsáveis pela feitura das telenovelas e, consequentemente, os responsáveis máximos pelos canais televisivos. Sabe-se que o recurso a expressões ou termos deturpados resulta do facto de as pessoas menos preparadas gramaticalmente se deixarem influenciar por aquilo que ouvem a pessoas “ilustres” que aparecem nos meios audiovisuais a cometer impropérios contra a Língua Portuguesa. E pensam: “se fulano diz assim – ele que é tão importante: até é governante, até é político, até é jornalista, até é professor – é porque é correcto, e, se calhar, até é chique”! Mas não é! È tolice! 
“Pessimamente mal”? Num dos programas de “comentadores desportivos”, após o jogo Portugal – Israel, repetia um dos “sábios da bola”: “Portugal não ganhou porque jogou pessimamente mal. Houveram jogadores que não respeitaram a camisola” . Havemos de concordar que houve jogadores que não estiveram bem e que muitos erros houve da parte de determinados jogadores que não deixaram saborearmos a vitória…Mas, falta grave é aquela do nutrido comentador: “Pessimamente mal”. Não diga nunca “pessimamente mal”. Respeite a Língua Portuguesa usando: muito mal, ou tão só: pessimamente. O superlativo do advérbio “mal” é “pessimamente”. E não esqueça que o verbo haver, na acepção de existir, não tem plural: Houve jogadores!... 
“Optimamente bem”? Com frequência se ouve também a expressão: “Optimamente bem”. Gramaticalmente, a construção está péssima! Porque ou se diz: “muito bem” ou se diz: optimamente. O superlativo do advérbio “bem” é optimamente. 
“Melhor acautelado”? Paulo Portas, ao apresentar os esclarecimentos sobre o corte das pensões de sobrevivência, comunicou: “os interesses dos idosos viúvos ficam melhor acautelados…” Pois é, no mais belo pano cai a nódoa! Não é por ser vice – primeiro ministro que está incólume aos maus tratos gramaticais! Não esqueça: antes de um adjectivo verbal, o grau comparativo de superioridade do advérbio “bem” não é “melhor” mas sim “mais bem”! Logo: os interesses dos idosos viúvos ficam mais bem acautelados… 
“A vós, ou a voz”? O jornal “O Público” inseria há dias um comentário sobre a ambiência que se vive junto dos castelos portugueses: “…aqui ouve-se a vós dos nossos antepassados…” Naturalmente que o termo que deveria ser usado era “a voz” e não o seu homófono “a vós”. Podemos até utilizar a expressão (parodiando): “aqui ouve-se a voz dos nossos avós. 
“Incluindo no nosso”? “Curiosamente, e se olharmos para a política em vários países, incluindo no nosso, o paralelo pode estabelecer-se…” (JN de 07/10/13). Se em vez do gerúndio – incluindo – se empregasse o advérbio – inclusive – (atenção; inclusive não tem acento gráfico nenhum), estava certo: em vários países, inclusive no nosso. Mas optando pelo gerúndio, forma de verbo transitivo, deveria ser: em vários países, incluindo o nosso. Neste caso, “o nosso” é complemento directo do gerúndio “incluindo”. 
“Prol ou prole”? É mais um caso de homofonia. São homófonas as palavras que têm a mesma forma fonética, isto é, a mesma pronúncia, mas que apresentam forma gráfica e significado diferentes. “Prol”significa “a favor” “em benefício de”; Prole significa descendência. No léxico português abundam os termos homófonos. Ex: acento /(sinal ortográfico) e assento (sítio onde nos sentamos); coser (unir com pontos) e cozer (cozinhar os alimentos; intenção (propósito) e intensão (intensidade); cela (pequeno quarto) e sela (assento para o cavaleiro). 
“Supérfulos ou Supérfluos?” Era caso para ficarmos “fulos”, não era? Mas não vale a pena! Sejamos compreensivos. Compreensivos para com as pessoas, mas implacáveis para com os erros! Aí está, mais uma vez, a falta do latim. “Supérfluo” é adjectivo que provém do adjectivo latino “superfluus, .a, -um” e que, já no latim, era formado por um adjectivo caído em desuso “–fluus, -a, -um”, que tinha a ver com o verbo “fluere” (=fluir, correr de líquido) e o prefixo “super” – que nós herdámos. Supérfluo é, pois, o que corre por cima, o que supera, o que sobra, o que vem a mais. 
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
09 
Como se pronuncia a palavra “LÉXICO”? 
Anteriormente, tratámos já da pronúncia múltipla da letra “X”. Para o caso em apreço a questão é saber se vale “ch” ou “ks”. 
Normalmente, os falantes hesitam entre um e outro valor, sendo certo que a forma correcta é pronunciando o “x” com valor de “KS. Aproveitemos o ensejo para explicitar, por um lado o sentido do termo “léxico” duma língua e, por outro, as fontes do léxico português.                                    Como referem os especialistas no assunto, por “léxico” entende-se o dicionário no sentido do conjunto de palavras dessa língua e a sua inventariação Convém distinguir entre “léxico” e “vocabulário”. Ambos são conjunto dos elementos “palavras”: o primeiro abrange todas as palavras que, num momento dado, estão à disposição do locutor ( o chamado léxico individual), palavras essas que pressupõem o “léxico geral” da respectiva língua, composto por todas as palavras disponíveis nessa mesma língua, quase todas arquivadas nos dicionários e enciclopédias. 
O “vocabulário” é já o conjunto das palavras efectivamente empregadas pelo falante num acto de fala preciso. Numa notícia, o jornalista empregará um número restrito de palavras (isto é, “vocabulário), em relação à quantidade enorme de palavras que ele conhece (léxico individual) ou que constituem o todo da língua portuguesa (léxico geral ou global). Poderemos dizer que: vocabulário e léxico acham-se em relação de inclusão: o vocabulário está contido, é sempre uma parte, de dimensões variáveis, conforme as solicitações de momento, do léxico individual, que, por sua vez, faz parte do léxico global. 
………………………………. 
E quais as fontes do léxico português? 
O léxico português, basicamente de origem latina, formou-se a partir do romanço lusitano transformado historicamente pelos contactos dos falantes com realidades linguísticas muito diversificadas. 
As populações nativas ibéricas assimilaram o núcleo lexical de base latina popular e transformaram-no através de contribuições pré-romanas. Verificaram-se, depois, contributos com origem em povos de presença pós-romana na península ibérica e outros advindos da coexistência e inter-relação de várias línguas. 
No desenvolvimento do léxico português foi havendo sempre participação de um grande número de empréstimos de outras línguas e, até, em fases posteriores à da formação, do próprio latim (termos eruditos tomados do latim clássico a partir do século XVI). 
Assim, para além do léxico genericamente de origem latina, podemos registar a existência na língua portuguesa de: 
Vocábulos de origem pré-romana, céltica e celtibérica: Abóbora, barranco, barro, bezerro, bico, broa, bruxa, cabana, cama, canto (=ângulo), carrasco (=planta), coelho, garra, gordo, lapa, légua, manteiga, peça, sapo, touca, veiga… 
Vocábulos de origem grega (principalmente por intermédio do latim): Abade, anjo, avantesma, bispo, bodega bolsa, cadeira, caravela, ermo, espada, farol, gesso, guitarra, igreja, tio… 
Vocábulos de origem fenícia: Mapa, malha, mata… 
Vocábulos de origem germânica (suevos e visigodos): Agasalhar, arauto, banco, bando, boca, branco, coifa, elmo, esgrimir, espeto, espia, espora, feltro fresco, guardar, guerra, harpa, jardim, rico, roubar, sopa, toalha, venda… 
Vocábulos de origem árabe: Açúcar, açucena, alambique, albufeira, alcatifa, alcatrão, álcool, alfinete, álgebra, almofada, armazém, arraial, arrátel, arroba, arroz, atum, azémola, azeite, azul, chafariz…
Vocábulos de origem provençal (época medieval): Balada, batalha, coragem, dama, duque, freire, jaula, linhagem, mensagem, monge, proeza, refrão, torneio, trova, trovador, trovar, vassalo, viagem…
Vocábulos de origem castelhana (do século XV ao século XVIII): Airoso, boina, cabecilha, castanhola, castelhano, cavalheiro, façanha, faina, frente, galã, guerrilha, hediondo, moreno, muleta, pandeiro, tejadilho, tertúlia, tijolo, trecho… 
Vocábulos de origem grega (novos grecismos): Alcaparra, freguês, golfo, quilate… 
Vocábulos de origem francesa: Abandonar, automóvel, bilhete, blusa, boné, cais, chapéu, chefe, coqueluche, croquete, envelope, etiqueta, filete, franja, fricassé, jóia, montra, paletó, puré, restaurante, trem… 
Vocabulário de origem asiática: Abada, andor, bambu, bengala, beringela, biombo, bule, canja, chá, chávena, chita, corja, jangada, leque, pagode, pires, quimono, tafetá, tulipa, turbante, xaile… Vocabulário de origem americana: Abacate, amendoim, ananás, batata, cacau, cacique, canibal, canoa, colibri, furacão, jacaré, macaco, missanga, moleque, quitanda, samba, senzala, soba… Vocábulos de origem italiana, inglesa, alemã, neerlandesa, escandinava, russa e hebraica, apresentaremos num futuro apontamento sobre a Língua Portuguesa.
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
10
A FORMAÇÂO DO FEMININO DOS SUBSTANTIVOS 
Os substantivos que designam pessoas e animais costumam flexionar-se em género, isto é, têm geralmente uma forma para indicar os seres do sexo masculino e outra para indicar os do sexo feminino. Todavia, existem em português substantivos UNIFORMES, ou seja, substantivos com uma só forma para os dois géneros e é destes que vamos tratar. 
1. Substantivos epicenos. Denominam-se epicenos os nomes de animais que possuem um só género gramatical para designar um e outro sexo Assim: a águia, a baleia, a borboleta, a cobra, o jacaré, a mosca, a onça, a pulga, a sardinha, o besouro, o condor, o crocodilo, o gavião, o polvo, o rouxinol, o tatu, o tigre... 
Quando há necessidade de explicitar o sexo do animal, juntam-se então ao substantivo as palavras “macho” e “fêmea”: o crocodilo macho, o crocodilo fêmea; o macho ou a fêmea do jacaré.
2. Substantivos sobrecomuns. Chamam-se sobrecomuns os substantivos que têm um só género para designar pessoas de ambos os sexos. Assim: o algoz, o apóstolo, o carrasco, o cônjuge, o indivíduo, o verdugo, a criança, a criatura, a pessoa, a testemunha, a vítima… 
Neste caso, querendo discriminar-se o sexo, diz-se, por exemplo: o cônjuge feminino, o cônjuge masculino; uma pessoa do sexo masculino, uma pessoa do sexo feminino 
3. Substantivos comuns de dois géneros. Alguns substantivos apresentam uma só forma para os dois géneros, mas distinguem o masculino do feminino pelo género do artigo ou de outro determinativo acompanhante. Chama-se comuns de dois géneros estes substantivos. Exemplos: o agente, a agente; o artista, a artista; o camarada, a camarada; o colega, a colega; o cliente, a cliente; o compatriota, a compatriota, o dentista, a dentista; o estudante, a estudante; o gerente, a gerente; o herege, a herege; o imigrante, a imigrante; o indígena, a indígena; o intérprete, a intérprete; o jovem, a jovem; o jornalista, a jornalista; o mártir, a mártir; o personagem, a personagem; o presidente, a presidente (mesmo que seja a presidente do Brasil); o selvagem, a selvagem, o suicida, a suicida… 
São comuns de dois géneros todos os substantivos ou adjectivos substantivados terminados em “ista": o pianista, a pianista; uma anarquista, uma anarquista. 
MUDANÇA DE SENTIDO NA MUDANÇA DE GÉNERO Há um certo número de substantivos cuja significação varia com a mudança de género: 
Exemplos: o cabeça, a cabeça; o caixa, a caixa; o capital, a capital; o cisma, a cisma; o corneta, a corneta; o cura, a cura; o guarda, a guarda; o guia, águia; o lente, a lente; o língua, a língua; o moral, a moral; o voga, a voga… 
SUBSTANTIVOS MASCULINOS TERMINADOS EM “A” Ao substantivos terminados em “a”, por via de regra, são do género feminino. No entanto, há vários masculinos com essa terminação: artista, camarada, colega, poeta, profeta, etc. Alguns desses substantivos apresentam uma forma própria para o feminino, como poeta (poetisa) e profeta (profetisa); a maioria, no entanto, distingue o género apenas pelo determinativo empregado: o compatriota, a compatriota; este jornalista, aquela jornalista; meu camarada, minha camarada…(são os tais comuns de dois). 
Um pequeno número de substantivos terminados em “a” existe, todavia, que só se usa no masculino, por designar profissão ou actividade própria do homem. Assim: jesuíta, nauta, papa, patriarca, heresiarca, tetrarca. 
Entre os substantivos que designam coisas, são masculinos os terminados em –ema e –oma que têm a origem em palavras gregas: anátema, cinema, diadema, dilema, edema, estratagema, sistema, telefonema, trema, diploma, idioma, aroma, axioma, coma, etc. 
Relativamente à palavra “grama” há que ter em conta o seu significado: quando se refere a medida de peso, “grama” é do género masculino (dois gramas”); quando significa planta, erva, “grama” é do género feminino (a reva). 
SUBSTANTIVOS TERMINADOS EM “O” Há um pequeno número de substantivos terminados em “o” que, no feminino, substituem essa final por desinências especiais. Assim: diácono, diaconisa; galo, galinha; maestro, maestrina; silfo, sílfide. 
Os substantivos terminados em “ão” podem formar o feminino de três maneiras: A) mudando a final –ão em –ao: ermitão, ermitoa; hortelão, horteloa; leitão, leitoa; patrão, patroa. B) mudando a final –ão em –ã: aldeão, aldeã; anão, anã; ancião, anciã; campeão, campeã; castelão, castelã; cidadão, cidadã; cirurgião, cirurgiã; cortesão, cortesã; irmão, irmã. C) mudando a final –ão em –ona: bonachão, bonachona; comilão, comilona; espertalhão, espertalhona; figurão, figurona; folião, foliona; moleirão, moleirona; paspalhão, paspalhona; pobretão, pobretona; sabichão, sabichona; solteirão, solteirona.
Porém, há excepções a estes três processos de formação, como a seguir se exemplifica: cão, cadela; zângão, abelha; barão, baronesa, lebrão, lebre; maganão, magana; perdigão, perdiz; sultão, sultona.
SUBSTANTIVOS TERMINADOS EM “E” 
Os substantivos terminados em –e são geralmente uniformes. Essa igualdade formal para os dois géneros é quase absoluta nos finalizados em –nte, de regra originários de particípios presentes e de adjectivos uniformes latinos. Há, porém, um pequeno número que, à semelhança da substituição –o (masulino) por –a (feminino), troca o –e por –a. Assim: elefante, elefanta; governante, governanta; infante, infanta; mestre, mestra; monge, monja; parente, parenta; hóspede, hospeda; gigante, giganta.
 SUBSTANTIVOS DE GÉNERO VACILANTE. 
Alguns gramáticos e dicionaristas costumam apresentar substantivos em cujo emprego se nota vacilação de género. Eis alguns para os quais se recomenda a seguinte preferência: A) Género masculino: ágape, antílope, caudal, clã, contralto, gengibre, lança-perfume, praça (soldado) soprano, suéter. B) Género feminino: abusão, alcione, aluvião, áspide, fácies, filoxera, omoplata, ordenança, sentinela.
----------------------------------------- -----------------------------------------
11
O 'mais bem posicionado'!
O comentador político Dr. Marques Mendes é uma daquelas pessoas privilegiadas pela Natureza que, tendo passado pela cadeira do poder, (leia-se Governo), tem sempre a solução certa na ponta da língua para todos os males deste país. Valha a verdade que é um mal endémico dos políticos (mais um!) este de tudo saber quando deixam de ser governantes.
Acresce ainda, no meio da verborreia patética, o cego pontapear na Gramática da Língua Portuguesa. E foi assim, em 28.12.2013, quando, empoleirado na cadeira da SIC, o Dr. Marques Mendes comentava a situação política em Portugal: “… Marcelo Rebelo de Sousa é o melhor posicionado para se candidatar à Presidência da República…” 
Afirmo que não é “melhor posicionado” e sim: mais bem posicionado! (politicamente, não sei! Gramaticalmente, assim é que está correcto!). A Gramática ensina: Antes de adjectivo verbal, o comparativo de superioridade do advérbio “bem” é “mais bem”; o superlativo de superioridade é “o mais bem”. 
Quem diria? 
Judite de Sousa, jornalista por de mais conhecida, atreve-se também a maltratar as boas regras da Gramática da Língua Portuguesa. No programa “Jornal da Noite” da TVI, em 10 de Janeiro de 2014, elogiava assim alguns lugares típicos de Lisboa: “…o elevador de Santa Justa é um dos lugares mais afamado da capital”. Ora valha-nos Santa Justa! Justo seria dizer: o elevador é um dos lugares mais afamados. É que o adjectivo “afamado” deve concordar em género e número com o substantivo que qualifica que, neste caso, é “lugares” e não “elevador”
Novas comissões...
Em 26.12.2013, o Dr. Jaime Ramos, médico, ex-deputado, ex-presidente da Câmara de Miranda do Corvo, ex-Governador Civil de Coimbra, actual líder do movimento que defende a reposição da ligação ferroviária entre Coimbra e Serpins, dizia, na RTP, que …concordava que tenham de haver novas comissões…” 
Tratou-se de um lapso, com certeza, mas dói ver e ouvir tal pontapé gramatical por tão egrégio filho da Nação. Claro que o Dr. Jaime Ramos pretendeu dizer: “tenha de haver novas comissões” uma vez que se trata do verbo haver (num tempo composto) com o significado de existir… 
A ênfase!
Em 01.01.2014, o Sr. Coronel Barão Mendes, convidado a pronunciar-se na TVI sobre as novas alterações ao Código de Estrada, utilizou a expressão…”importa pôr o ênfase na segurança das pessoas…” 
Gramaticalmente, enganou-se o Senhor Coronel! Ênfase é do género feminino. Logo a forma correcta é: “a ênfase”. 
“Os milhares de pessoas desempregadas”...
“As milhares de pessoas desempregadas”? Não! “Os milhares de pessoas desempregadas”? Sim! É tão errado dizer “as milhares de pessoas” como dizer “ dois dúzias de professores”! São os chamados numerais colectivos que têm valor de substantivo, obrigando o determinante a concordar com ele em género e número, e não com o complemento determinativo (neste caso, partitivo) que dele depende. Vejamos: 
“Os milhares de vítimas; quantos milhares de desempregados; duas centenas de professores; as dezenas de homens; os milhões de pessoas; uma novena de pai-nossos; uma dezena de alunos; duzentas dezenas de alunos; um milhar, ou um milhão de euros. Note-se que o uso de alguns dos numerais colectivos pode ser substituído pelo respectivo cardinal, que, nesse caso, tem valor de adjectivo e, por isso, terá de concordar, se for variável, com o substantivo que se lhe seguir. Exemplos: Um milhar de escudos ou mil escudos; um cento de sardinhas ou cem sardinhas; duas centenas de pessoas ou duzentas pessoas; cinco centenas de gramas de açúcar ou quinhentos gramas de açúcar. (Já agora, não esquecer que o substantivo “grama” – medida de peso – é masculino. “Grama”, enquanto nome de uma erva, é do género feminino).
Quê!?
”O inconseguimento de eu estar num centro de decisão fundamental a que possa corresponder uma espécie de nível social frustracional derivado da crise. (Assunção Esteves na TSF, em 09-01.14). 
A Presidente da Assembleia da República consegue apresentar aqui um exemplo acabado de má qualidade de linguagem pela falta de clareza, característica fundamental no uso de uma Língua falada ou escrita. A clareza da linguagem permite o correcto entendimento e a boa compreensão do que se deseja comunicar. Uma das características-base da clareza é a precisão, isto é, o uso exacto da linguagem, não exagerando, nem no sentido da acumulação de palavras desnecessárias, nem na falta das que são indispensáveis à sua compreensão. Por outro lado, de entre os vícios que prejudicam a clareza da linguagem apontam-se: arcaísmos, neologismos, eruditismos, barbarismo. 
“Inconseguimento” e “frustracional” são meras barbaridades linguísticas (não existem nos dicionários!) e o amontoado de termos utilizados pela senhora Presidente insere-se no nível dos políticos: falar muito para nada dizer ou nada ser entendido… 
Filhós ou filhoses? 
O bolinho feito de farinha e ovos, frito e polvilhado com açúcar e canela chama-se “filhó”. Este termo deriva do latim “foliola” e o seu plural é “filhós”, não “filhoses”. A Gramática ensina assim: as palavras agudas terminadas em “ó” formam o plural acrescentando “s” ao singular. Dizer “filhoses” é cometer o mesmo erro que dizer “póses” (plural de pó que é pós).
A “noite” de José Rodrigues dos Santos… 
Com a prosápia que lhe é peculiar, aquele jornalista (e escritor???!!!) para além do piscar de olho, despede-se dos telespectadores com o acentuado “Boa Noite) “. Trata-se de um gesto cortês este. Pena é que pronuncie aberto o “o” de noite. O “o” da palavra noite é fechado (como nas palavras coice, foice, …).
“Estar a postes”? 
“Poste” é um substantivo masculino e designa pau fixado verticalmente no solo, pilar, coluna. “Posto” enquanto adjectivo significa, além do mais, colocado, plantado, disposto; enquanto substantivo significa lugar que uma pessoa ocupa com certa permanência, emprego, cargo, etc.. Quando se pretende dizer estar pronto ou atento, usa-se a expressão “estar a postos”.
-----------------------------------------------
12
CASAL ou PAR? 
Os elementos homossexuais, unidos por contrato civil, constituem um par ou um casal? Um bom dicionário ajuda na classificação correcta dessa sociedade constituída por duas pessoas:
CASAL: “substantivo masculino que designa conjunto de macho e fêmea; conjunto de duas pessoas de sexo diferente; homem e mulher; pequeno povoado; lugarejo; …(do latim: casale)”.
PAR: “adjectivo uniforme significando que não apresenta diferença em relação a outro; igual; semelhante. “substantivo masculino: conjunto de duas pessoas ou de dois objectos da mesma espécie; parelha; conjunto de duas pessoas ligadas por um interesse, afecto ou uma actividade comum…(do latim: pare)”. 
Então, por respeito à Gramática Portuguesa – “Constituição da Língua Portuguesa” – diga-se PAR e não CASAL. 
FIQUEI PASMA? 
A propósito das praxes académicas, uma defensora de todos os comportamentos usados por estudantes mais velhos de uma instituição do ensino superior, alegadamente para permitir a integração dos mais novos no meio académico, vociferava: “…eu fico pasma com os ataques injustos que saem da boca de alguns pseudo-intelectuais…”. Pois é! Sem entrar em juízos de valor sobre tais costumes, fico pasmado com a ignorância daquela miúda universitária que pontapeia assim a Língua Portuguesa. Pasma, enquanto substantivo ou adjectivo não existe. Apenas enquanto forma verbal (3ª pessoa do singular do verbo pasmar) se pode usar o termo “pasma”. No caso vertente, a alegada universitária errou: deveria dizer estou pasmada. 
UM COPO DE VINHO ou UM COPO COM VINHO? 
Isto é, usa-se a preposição DE ou a preposição COM? Depende da realidade a que nos referimos: Se pretendemos distinguir apenas o elemento que se encontra dentro do copo para o diferenciar de um outro qualquer elemento, usamos a preposição “com”: “está ali um copo com vinho”. Se queremos mencionar o conteúdo – como se este se identifique com a capacidade do continente, o copo, empregamos a preposição “de”: “Sirva-me um copo de vinho”, “vou beber um copo de vinho”. Também nestas matérias convém não meter água, e o melhor é beber um copo de água… 
Aproveitemos o ensejo para apontar a diversidade de complementos circunstanciais introduzidos pela preposição “de”: 1. origem ou ponto de partida (veio de Coimbra); 2. lugar donde (via o Mondego da janela); 3. meio (vive dos rendimentos); 4. tempo (chegou de madrugada); 5. causa (chorou de alegria); 6. modo (engoliu de uma só vez) 7. pertença (caneta do Diogo); 8. conteúdo (a Constança bebeu um copo de água); 9. continente (o Afonso bebeu o sumo do jarro); 10. matéria (estátua de pedra); 11. autoria (poema da escritora) 12. assunto (obra de literatura); 13. composição (bolo de chocolate); 14. valor (telemóvel de cem euros); 15. fim (roupa de trabalho); 16. destino (vou apanhar o comboio da Figueira). 
FÊVERA, FEVRA, ou FEBRA? As três formas são correctas e sinónimas. Derivam todas da mesma palavra latina: “fibra”, embora “febra” seja a mais próxima do étimo latino e a mais corrente. É curioso notar que o termo “fibra” na expressão “ter fibra” com significado de “ser competente” ou “talentoso”, “ter personalidade” tem a mesma origem latina. 
ADEPTO FERRENHO ou ADEPTO FERRANHO? A forma correcta é ferrenho. Trata-se de um adjectivo e significa “parecido com o ferro na cor ou na dureza; inflexível, duro, intransigente, teimoso, obstinado. 
Existe também a palavra ferranho. É um substantivo com que vulgarmente se designa um cação (peixe) de uma espécie frequente em Portugal, também denominado galhudo.
FISIOTERAPEUTA ou FISIOTERAPISTA? Deve dizer-se fisioterapeuta, que significa “especialista que recorre a agentes físicos e naturais para o tratamento de doenças”. Provém da junção de “fisio”, do grego “physis”, e de “terapeuta”, do grego “therapeutés” (médico). 
A forma “fisioterapista” não existe. 
“ANTES DE COMPRAR UM LIVRO GOSTO DE O FOLHEAR” ou “antes de comprar um livro gosto de o desfolhar”? 
Folhear significa revestir de folhas, dividir em folhas, percorrer as folhas de uma publicação, consultar. Desfolhar significa tirar as folhas ou as pétalas a, descamisar, descapelar, extinguir pouco a pouco, perder as folhas. Logo, deve dizer-se “antes de comprar um livro gosto de o folhear. 
 GÁS NATURAL ou GAZ natural? “Gás” designa um fluido combustível, utilizado para aquecimento, aplicação culinária e iluminação. 
“Gaz” é uma medida de extensão, usada na Índia. Assim sendo, “gás natural” é a forma correcta. 
“È IMPORTANTE QUE ELES GIRAM BEM AS FINANÇAS” ou “É importante que eles gerem bem as finanças”? A expressão “é importante que” pede o verbo seguinte no modo conjuntivo. No caso em apreço, em que se trata de uma forma do verbo gerir, a forma correcta é “giram” e não “gerem” que é a terceira pessoa do plural do presente do indicativo do mesmo verbo. Por exemplo: eles “gerem o trabalho”. 
Não se deve confundir com o verbo girar que significa “andar à roda ou em giro, circundar, fazer rodar”. Com este verbo a forma correcta é: “é importante que eles girem” e ainda: “neste momento, todos giram”. 
“HÁ DEZ ANOS” ou “há dez anos atrás”? Em bom Português diz-se: “HÁ DEZ ANOS”. O verbo haver traz consigo o sentido de “tempo decorrido”, pelo que a ideia de passado já está absolutamente clara nesta expressão. “Há dez anos” já significa “há dez anos atrás”. Não é necessária qualquer palavra de reforço (atrás)…
-----------------------------------------------
 13
Figuras de estilo (1)
Hoje deixaremos de parte a má figura que fazem aqueles figurões (políticos, governantes, aldrabões, jornalistas, professores, mestres, doutores) que pontapeiam a Língua Portuguesa, e vamos atentar nas “Figuras de Estilo” consagradas na Gramática Portuguesa, isto é, nos meios ou recursos que permitem modificar a linguagem vulgar e tornar as frases expressivas, sugestivas ou musicais. 
São muitos esses recursos utilizados quer na linguagem oral quer, sobretudo, na escrita, nomeadamente na linguagem literária. Referiremos os principais: 
ALEGORIA – sucessão de comparações, imagens e metáforas que transmitem um pensamento sob forma figurada, representando uma coisa para dar a ideia de outra, geralmente de ordem abstracta: “o barco da vida vai singrando, enfrentando as tempestades, em busca do porto de abrigo”. 
ALITERAÇÃO – repetição de consoantes no início ou no meio de palavras, com o objectivo de transmitir um efeito musical, ou rítmico: “na messe que enlouquece, estremece a quermesse. O sol, o celestial girassol, esmorece…”. 
ANACOLUTO – frase quebrada, em que se altera a construção sintáctica, sugerindo que a força da ideia se sobrepõe à correcção gramatical: “Por ele a ti rogando, choro e bramo”. “Eu parece-me que já acabou o filme”. 
ANÁFORA – repetição intencional de uma palavra ou expressão, para a fazer sobressair (se a repetição se verifica no início de cada verso, ou de cada estrofe, designa-se por “epanáfora): “Entre as flores sorri/. Já não as vê as flores/, Já não as pode colher/, Já não as sente sequer”.
 ANIMISMO – atribuição de características humanas a seres inanimados ou irracionais ou recurso que consiste em pôr a falar pessoas ausentes ou mortas: “havia um renque de salgueiros chorando junto ao rio”. “O sol acordou amuado. 
ANTANÁCLASE – utilização, na mesma frase, de palavras semelhantes, na forma ou no som, mas com sentido diferente: “Em vão, aos deuses vãos ele rezava”. 
ANTÍTESE – utilização de palavras ou ideias de significado contrário, para acentuar a oposição entre ambas, ou para realçar uma delas: “Aquela triste e leda (=alegre) madrugada”.
ANTONOMÁSIA – recurso a nome ou frase sugestiva relativos a características de uma pessoa que se utilizam para designar, em vez de usar o seu nome: “O rei lavrador (=D. Dinis) também foi poeta.” 
APÓSTROFE – invocação dirigida directa e momentaneamente a alguém ou alguma coisa presente, ou ausente, real ou fantástica, implicando interrupção da frase: “E vós, ilustres antepassados, se nos ouvis, apoiai-nos nesta empresa”. “Olha lá, meu caro amigo, tem cuidado com o que dizes”. 
ASSÍNDETO – supressão de conjunções sobretudo da copulativa “e”, para imprimir mais vivacidade à frase: “Entrou, subiu as escadas; bateu com força à porta do quarto, arrependeu-se”. 
ASSONÂNCIA – repetição de sons vocálicos, com a intenção de transmitir musicalidade à frase, ou de evocar um determinado ambiente: “E as cantilenas de serenos sons amenos”. CATACRESE – palavra que se usa por analogia, desviada do seu sentido próprio, por não haver outra adequada à realidade que se pretende exprimir: “O pé da mesa; a asa do jarro; os braços da cruz”. 
COMPARAÇÃO – aproximação de dois conceitos realçando um deles por confronto com outro, através do uso de uma palavra ou expressão comparativa:”Tem os olhos tão azuis como o céu.” Ficou branca como a cal da parede”. 
DIÁCOPE – emprego repetido da mesma palavra, intercalada entre as outras: “Tu, só tu, puro amor, com força crua”. 
DISFEMISMO – forma desagradável de referir uma realidade, para marcar distanciamento, falta de emoção” Esticou o pernil”,” bateu a bota” (= morreu). 
ELIPSE – omissão de palavras ou expressões que, no entanto, são facilmente subentendidas: “Vida aborrecida, a dele. (Subentende-se: a vida dele é aborrecida.) ; Muito riso, pouco siso. (Subentende-se: onde há muito riso, há poço siso); “Que maravilha! (Perante uma paisagem, por exemplo).
EPANÁFORA – ver Anáfora. 
EPIZEUXE – repetição de uma palavra ou mais palavras em frases seguidas, para dar mais força a uma ordem, a um pedido, a uma exortação, a uma descrição, etc.: “Foge, foge, se não prendem-te; “Arriscou tudo, tudo o que tinha”. 
EUFEMISMO – figura de estilo que consiste em suavizar uma ideia, desagradável ou grosseira, por meio de uma expressão mais agradável: “Não é nenhum génio”= é um pouco limitado”; “Já foi para o céu”= já morreu. 
GRADAÇÃO – progressão ascendente ou descendente de ideias ou palavras:”Ganhou impulso, subiu e, finalmente, voou”; “Entristeceu, brotaram-lhe as lágrimas nos olhos, largou em altos gritos”. 
HIPÁLAGE – forma de realçar uma característica de uma pessoa, atribuindo-a a uma coisa que lhe pertence ou que com ela está relacionada: “Lá estava o inspector, com o antipático papel na mão”. (antipático é atributo do inspector e não do papel): “Lábios devotos…” HIPÉRBATO – inversão forçada da ordem natural das palavras ou das orações: “Casos que Adamastor contou futuros” = “Casos futuros que Adamastor contou”. 
HIPÉRBOLE – afirmação exagerada, com intenção de acentuar fortemente a ideia que se pretende exprimir: “Os seus olhos eram dois archotes”; “As lágrimas saltaram-lhe em cascata”, “Encontrou a vítima num mar de sangue”; “Morrer de medo”. 
IMAGEM – representação sensível de uma ideia, procurando torná-la mais fácil de captar:”O rio, como uma cobra, serpenteia lentamente pela areia, como que espreguiçando-se”. 
INTERROGAÇÃO – pergunta cuja intenção é reforçar, no interlocutor, a ideia que se lhe quer transmitir, tornando a mensagem mais viva: “Eu não disse que te ias arrepender?””Então nós não ficámos de ir lá ter?” 
IRONIA – utilização de palavras ou expressões que significam o contrário do que se pensa: “Que rica prenda que tu me saíste!” 
METÁFORA – comparação não explícita, ou seja, a designação de uma coisa ou de uma ideia por meio de uma palavra ou uma expressão que indica, normalmente, uma coisa ou uma ideia diferente, mas que apresenta com ela alguma semelhança: “O fogo da paixão devora-o”. (Subentende-se: “a paixão é como um fogo”.) 
METONÍMIA – atribuição do nome de uma realidade a outra, aproveitando as conexões de sentidos entre as palavras: “o pai da historiografia nacional” (em vez de Fernão Lopes); “a alma dos Descobrimentos” (em vez de Infante D. Henrique); “ A coroa e a mitra” (em vez de rei e bispo); “Comeu dois pratos ao jantar” (= comeu o conteúdo de dois pratos); “Respeita os meus cabelos brancos” (= respeita a minha idade); “Vou dedicar-me a ler Camões” (= a obra de Camões); “Acompanhou o jantar com um belíssimo Borba” (= vinho da região de Borba).
--------------------------------------------------
(14)
FIGURAS DE ESTILO (2) 
Vamos completar a parte da Gramática Portuguesa que trata das “Figuras de Estilo” ou, como se disse anteriormente, dos meios ou recursos que permitem modificar a linguagem vulgar e tornar as frases expressivas, sugestivas ou musicais. 
OXÍMORO – figura de estilo que consiste em reunir, no mesmo conceito, palavras ou expressões de sentido oposto ou contraditórias. Exemplos: silêncio expressivo; conseguir meter um golo foi uma triste consolação. (Deriva do grego: oxymoro, de oxýs “arguto” + mórón “estúpido”.
PERÍFRASE – utilização de várias palavras ou frases para exprimir o que podia ser dito mais concisamente, com o intuito de embelezar a linguagem ou de dar realce à ideia a transmitir. Exemplo: quando surgiram os primeiros raios de sol, saiu de casa. = quando amanheceu, saiu de casa. ( Do grego: períphrasis) 
PERSONIFICAÇÃO – também designada prosopopeia, ou animismo – atribuição de características humanas a seres inanimados ou irracionais, ou recurso que consiste em pôr a falar pessoas imaginárias, ausentes ou mortas (ex: o sapo ria-se muito; o sol espreitava por detrás das árvores). (Do latim: personare + facere + ar) 
PLEONASMO – repetição aparentemente inútil da mesma ideia por meio de palavras equivalentes para dar mais colorido, vigor ou graça ao que se diz: vi, claramente visto, o lume vivo; parece-me a mim; entra para dentro. (Do grego: pleonasmos) O pleonasmo na Gramática corresponde à tautologia na Filosofia. Nesta, tautologia é uma proposição dada como explicação ou como prova, mas que, na realidade, apenas repete, em termos idênticos ou equivalentes, o que já foi dito (ex.: pensamento é o que o homem pensa). 
POLISSÍNDETO – emprego ou repetição intencional de uma mesma conjunção coordenativa, sem que a ordem gramatical o exija, apenas com o objectivo de exprimir insistência: Resmunga e refila e debate-se e esperneia e rebola-se; enfim, é uma peste. (Do grego: polysýndeton) 
QUIASMO – consiste numa estrutura cruzada entre duas frases, em que a ordem das palavras da primeira frase é inversa à da segunda. Exemplos; fugiu com medo, com medo fugiu. Ele estava cansado e sedento; sedento e cansado estava também o seu companheiro. (Do grego:Khiasmós). 
SINÉDOQUE – (É semelhante à Metonímia) - baseia-se numa relação de compreensão em que se designa o todo pela parte ou a parte pelo todo, o plural pelo singular ou o singular pelo plural, etc. Exemplos: usava sapatos de camurça = de pele de camurça; Fez ontem vinte primaveras = 20 anos; o homem = espécie humana. (Do grego: synekdokhé). 
SINESTESIA – consiste na mistura de dados de sentidos diferentes. Exemplo: tem mel no aroma, dor na cor, o lírio. (Do grego: synaísthesis) 
SUPRESSÃO – omissão de palavras ou expressões que, no entanto, são facilmente subentendidas. Ex: Muito riso, pouco siso. (Subentende-se: onde há muito riso, há pouco siso). Semelhante a Elipse e a Assíndeto. (Do latim: suppressione) 
ZEUGMA – figura de estilo que consiste na omissão, numa oração, de uma palavra ou palavras já expressas noutra oração anterior. Exemplos: “A casa era grande e soalheira; os quartos, muito espaçosos”. (Subentende-se: eram muito espaçosos). “Abriu os olhos: primeiro um (olho), depois o outro (olho). (Do grego: zeugma, -atos, “junção”. Terminamos assim a parte da Gramática que trata das Figuras de Estilo. Avancemos para outras curiosidades e… denúncia de algumas incompetências e pecados gramaticais. 
XPTO? O que é isso? Um termo que anda por aí na boca de gente pretensiosa desejosa de dar nas vistas (e nos ouvidos). De facto, por dá cá aquela palha, o termo xpto vem sendo usado na linguagem falada, mais do que na linguagem escrita (do mal o menos!). De que se trata, afinal? Xpto (leia-se xis-pê-tê-ó): 1. É usado como adjectivo invariável, quanto ao género e número = de boa qualidade, óptimo, muito moderno, sofisticado. Porém, enquanto adjectivo não existe nos dicionários de Língua Portuguesa. 2. Trata-se da designação grega de Cristo, que o povo lia “xis-pê-tê-ó” para designar qualidade excelente, divina magnífica; 3. X.P.T.O: abreviatura medieval de Christós, constituída por “Khi”, um “Rho”, um “Tau” e um “Ómikron”.Por uma questão de economia de espaço, uma vez que os pergaminhos e os papiros eram muito caros, recorria-se frequentemente às abreviaturas. Usava-se também XPO ou apenas XP; em Bíblias antigas em que as primeiras letras de cada página eram desenhadas com iluminuras complexas, estas letras eram realçadas quando o texto começava com o nome de Cristo; 4. Valor anedótico: XPTO também é visto como uma cifra sem significado lógico, numa adivinha da dé cada de 60: uma pessoa tentava atravessar um rio e a única instrução que tinha dizia: “XPTO”, que a pessoa que ouvia a adivinha deveria traduzir como: “despe-te e nada” (X= dez, P= pe, T= te, O= nada). Desde então, “XPTO” é usado como sinónimo de “algo sem sentido”. Pensa-se que XPTO, enquanto adjectivo, tal como é utilizada na Língua Portuguesa, é de origem obscura. “Terá provavelmente começado por significar algo digno de Deus, vindo a desembocar no sentido que comummemte lhe damos: “requintado”, “aprimorado”, ou seja, que tem uma característica , uma qualidade ou uma virtude superior”. Desvirtuado o uso, pode significar até algo que não se conhece. Ex: O ladrão fugiu num carro xpto (Tanto pode significar: muito bom, como marca desconhecida) 
LEGITIMIZE? José Rodrigues dos Santos, – um dos muitos funcionários da RTP, muito bem pagos por todos (?) nós contribuintes, e muito convencidos da sua cultura linguística – num dos seus pedestais, formava e informava os ouvintes do Telejornal: “… para que o mundo ocidental legitimize a sua decisão de anexar a Crimeia, Putin…”. Valha-nos Santa Rita de Cácia - a quem pisco o olho – perante tanta vaidade e tão pouca dignidade! Peça desculpa, ZÉ, e não diga que foi um lapsus linguae, um engano não intencional. É que repetiu o disparate!! LEGITIME o seu vencimento, Zé!
“…QUE CUJA…”? Não! Só CUJA, (sem que) Simões, ex-jogador do Benfica, num dos programas televisivos, comentava a atitude de Ricardo Quaresma após o jogo Nacional-Porto : “…O Quaresma, que cuja personalidade nos deixa dúvidas, leva-nos a pensar que pode ver comprometida a sua inclusão na selecção…” O sr. Simões não tem culpa de ser do Benfica…por isso, está perdoado!